domingo, 17 de julho de 2016

Hoje. Porque ontem esqueci e amanhã já se apagou...



Todo começo é feliz. Todo fim é triste. É bem assim, todo mundo sabe, mesmo que pareça nunca saber lidar com isso. É previsível. Maktub. Pelo menos até que se permita escrever novos roteiros depois de colecionar bons e certeiros clichês sobre recomeços. De clichês eu entendo e sobre isso tenho um punhado, mas hoje, fico apenas com Guimarães Rosa: "A noite não é o fim do dia: é o começo do dia que vem". Acontece que, aqui, antes de reconhecer que o final de uma volta do caracol é a deixa pra o começo de outra, anoitece.

A mim, interessa o inesperado. O abraço que chega de surpresa, sem que os olhos avisem ao corpo, pra acelerar o peito e nos despertar. A vida acontecendo sem que a gente perceba até que nos é preciso roubar um pouco de ar. E quando a gente menos espera, já se foi mais um reencontro dos ponteiros do relógio na parede de tédio branco, o player já voltou pra primeira faixa do disco que nem dói mais e já nasceu estrela no céu quando ainda é manhã. Quando a gente mesmo espera, deixou de esperar e nem se deu conta. E perdeu as contas, esqueceu os números e reaprendeu a escrever. O roteiro, a poesia, a vida. Seguindo os passos um a um. A mim, interessa o surpreendente.

Insisto, desisto, resisto e quase perco o chão. Acredito no voo mais do que nas asas.
A vida segue. E é aí que a gente se continua.
E há que se reconhecer as coisas pelas quais se deve acordar e ter como motivo, quando pensamos nelas todos os dias, desde os dias que a gente não vê passar, até nos que a gente gostaria de parar pelo medo de ter pra sempre um nunca mais. Há, também, que se aceitar que os dias desleais existem pra nos lembrar que um corpo cicatrizado é como um mapa na pele de um viajante. É ali a sua história e é nela que (re)descobrimos que temos forças e energias pra amanhecer.

Parece confuso e óbvio demais, eu sei... Bagunçado e eufórico como bem são os começos. Cruel e frio como todo bom fim. É. E não é. Tudo - que sorte a nossa! - é muito cheio de "pode ser".
Então caminha. Corre. Sempre em-frente. Pega carona na primeira deixa que a vida te der e não para, menina. Continua...
Afinal, o amanhã já se apagou.

A poesia às vezes amarga, mas é docinha no final.

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