sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Um café e um amor... Coloridos, por favor!

foto da página no café no facebook
Saio bem pouco de casa e esse costume que, pra mim, é bom e ruim em proporções bem equilibradas - amém! - acaba me deixando quase sempre por fora das novidades e me fazendo conhecer os lugares mais pelas fotos do povo. E ô povo passeador esse do Cariri, viu? Aí tem também a minha frescura de findar me sentindo atrasada e deslocada por não ter uma foto legal de uma noite massa nesses canto tudo que tem surgido aos montes por aqui. Quando consigo ir "já num tem mais nem graça" e é quase como se eu tivesse passado uma fase de um jogo, com muita dificuldade, mesmo depois de meio mundo de spoilers. Sou péssima com games, confesso, mas me divirto como puder.

Quando vi alguém comentando sobre o Kava Café & Mais, esse "novo lugar todo diferente e interessante que abriu em Juazeiro", fui procurar mais informações, vi que o café tinha menos de uma semana de vida, muitas cores e tão logo pensei: 1. Que lugar lindo!; 2. É novo, quase ninguém conhece e não tem fotos lá, então quero ser uma das primeiras; 3. Ar Maria, que lugar lindo!!! Que o universo me conceda a graça da absolvição por querer fazer algo por um motivo tão maizomeninhos, mas que também me mantenha nessa pele finíssima pra sentir afeição.



Duas amigas e eu saímos pra uma noite que jurávamos que seria rápida, pra um café, uma conversa e algumas fotos. Mal podíamos imaginar que faríamos uma viagem. Entrar no Kava - que já começa com letra boa, é um nome fácil de lembrar e que, de cara, nos leva a outro países, principalmente alguns do leste europeu onde é assim que se dá nome ao café - é como entrar numa série ou num filme. Seguindo minhas experiências: f.r.i.e.n.d.s pelo café, é claro, mas também pelo sofá delicinha em patchwork, com uma poltrona diferente de cada lado e uma mesinha de centro (feita com um surdo e um tampo de vidro) que dão uma deliciosa sensação de sala de estar - e de querer ficar! E Across The Universe, inevitavelmente, pelas inúmeras referências - com quadros, pelúcias, almofadas e até um moço incrivelmente gentil com sotaque pernambucano e "óculos do john ou olhar do paul?" - aos meninos de Liverpool. E a decoração ma-ra-vi-lho-sa continua: caixotes de feira bem dispostos formando uma estante bem rústica, sofás de pallets, pequenos vasinhos coloridos com guardanapos e açúcar-do-amor, cadeiras em cores primárias. antigas máquinas de costura como base pras mesas, quadros com frases, desenhos de artistas, amor, cor... Cor! Muita cor! E, aqui, que me desculpem os monocromáticos, mas ser colorido é fundamental.




O Kava tem um cardápio incrível com várias opções de cafés, cervejas artesanais e comidinhas. Indecisa e medrosa que sou, li o cardápio várias vezes e, como quase sempre, fiquei tentada ao clássico cappuccino, mas fui forte e resolvi mudar. E que bom que mudei! Fui de Frapê de nutella-maltine e, olhe, foi como deitar numa nuvem geladinha rodeada de querubins. Dos céus! Anie foi de cappuccino clássico com a borda cheínha de nutella e mesmo que a gente peça uma colherzinha, aos poucos a gente aprende que a vida foi feita pra gente se lambuzar e lamber os dedos, né? E Sayonara que anda se estranhando muito com esse calor peculiar do Cariri, escolheu duas cervejas. Meu paladar que é péssimo pra cerveja se aventurou (foi só um golinho de cada, não juro!) e aprovou as duas: Eisenbach Weisenbach que eu não lembrava o nome (e muito menos sei pronunciar) mas ela me disse e eu resolvi colocar só pra bancar de sabidinha, e outra que nem ela lembra o nome, preta, com nove vírgula pouco de álcool e, parece brincadeira, foi a que mais gostei. Mas, sinceramente, mesmo quem bebe pouco, e só tem um interesse de leve de conhecer novos sabores, se sente instigado a experimentar só de ver e sentir a paixão e delicadeza com que Alysson (gente, lembrei de verdade o nome dele? calma...) fala de cada uma. A propósito, logo na entrada do café, tem um quadro com vários rótulos de cervejas, de vários países. Ah, e nós três provamos quiches de carne de sol e camarão e, sem ter medo de ser repetitiva, aprovadíssimos. E ainda tem mais: quem gosta de música, encontra mais um ponto positivo pra esse cantinho. Inclusive, como se não bastasse a sensação de estar numa série, rolou até dancinha quando começou a tocar "500 miles", a música que embalava as viagens de carro de Ted e Marshall em How I Met Your Mother


Não saí de casa naquela sexta-feira procurando algo novo pra escrever aqui ou esperando ter uma noite incrível. Bem diferente disso, eu buscava uma fuga, um segundo de paz, afinal, os dias vinham sendo os mais desleais possível. E cruzar aquela porta já me fez bem e perdi a conta de quantas vezes disse o quanto estava feliz por ter descoberto aquele lugar. Acredito que isso é o que dá significado às coisas: a energia boa que os lugares, as pessoas e os momentos nos transmitem. Dá pra sentir carinho em cada canto do café. As cores e cada coisa que parece ter sido escolhida e disposta a dedo pelo ambiente são carregadas de energia boa. Além do atendimento maravilhoso, do cuidado em ouvir a gente e nos fazer sentir em casa e não querer sair dali tão cedo. 

Tô com vontade de voltar lá desde o dia seguinte a essa ida. À tarde, pra ler um pouco. À noite, com os amigos. Arrisco dizer que encontrei mais um meu lugar preferido, bem ali no meio do louco (pra gente meio avuada que nem eu) polo gastronômico de Juazeiro. Achei esse meu lugar por cada detalhe único e cuidadoso, pelo atendimento extremamente atencioso. Pelas viagens e referências. O Kava é uma espécie de livro-vitrola-paleta-com-cheiro-bom. Vão lá, sério. Vocês vão sentir.






Kava Café & Mais
Avenida Plácido Aderaldo Castelo, 535, Galeria Open, Lagoa Seca, Juazeiro do Norte.
Telefone: (88) 3085-8119 / (88) 9 9252-0550
Instagram: @kava_cafe_e_mais
E-mail: kavacafeteria@gmail.com

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Pequena Abelha, de Chris Cleave



Autor: Chris Cleave
Editora Intrínseca
270 páginas

Não queremos lhe contar O QUE ACONTECE neste livro.
É realmente uma HISTÓRIA ESPECIAL,
e não queremos estragá-la.
AINDA ASSIM, você precisa saber algo para se interessar,
por isso vamos dizer apenas o seguinte:


Esta é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa...



Essa sinopse transmite um suspense tão grande que se eu tiver de apontar um defeito nesse livro seria exatamente isso! Não que o livro não seja misterioso, excitante e essas coisas todas, mas o ápice da história é contado de forma gradual, tão aos pouquinhos que, quando chega, encontra o leitor de ombros relaxados porque, não que demore ou seja parado, até porque o livro é pequeno e, realmente, excitante. Mas o grande segredo da história é muito adiado, a ponto de se tornar previsível e o leitor suspeitar do que vai acontecer e, quando acontecer, acabar não tendo mais graça. (isso não aconteceu comigo, é muito fácil me surpreender)

Definitivamente, esse mistério todo fez efeito em mim e a história, tão forte e emocionante, mais ainda. Há tempos eu queria ler esse livro e quanto tive ele nas mãos não pensei duas vezes e me entreguei. Era como se eu estivesse comendo, com muita fome, minha comida preferida (se a lista não fosse enorme eu citaria alguma): queria devorar, mas queria, também, saborear. Não queria mesmo terminar e, mesmo assim, já recomendava o livro sem saber no que ele findava. A história me envolveu muito e não foram só duas ou três vezes que me peguei chorando com a leitura.

Nas pernas escuras da moça havia muitas cicatrizes brancas pequeninas.
E pensei: Será que essas cicatrizes estão no seu corpo inteiro, como as luas e estrelas no seu vestido?
Achei que isso também seria bonito e peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensemos.
Mas você e eu temos de fazer um acordo e desafiá-los.
Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado?
Este vai ser nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto.
Uma cicatriz significa: "Eu sobrevivi."
Pág. 17


A história é narrada pelas duas personagens citadas na sinopse: Pequena Abelha, uma menina nigeriana e Sarah, uma jornalista britânica. Outro personagem importantíssimo, apesar de pequeno, é Charlie - ou podem chamá-lo de Batman - filho de Sarah, que trás paz em muitas páginas com sua verdade de criança. A história segue uma dinâmica que me agradou muito: os capítulos são contados ora por Pequena Abelha, ora por Sarah. Esse jogo nos dá perspectivas diferentes da história e uma certa proximidade com as personagens que ficam cada vez mais reais. A narrativa é simples e a forma como é desenrolada pelas personagens fica bem característica, marcada pelas vidas diferentes que levavam, onde Sarah é um tanto firme e sensata no que relata e Pequena Abelha é ingênua e sempre tenta enxergar o que lhe cerca com bons olhos.

Chris tem uma escrita tranquila e simples, repito, mas por vezes confusa. Se é que este não foi, mesmo, o objetivo dele já que o livro tem essa "revelação gradual". Pequena Abelha tem uma narrativa que intercala presente e passado a todo momento e por vezes, esse jogo atrapalha o ritmo da história quando contorna o que se espera saber. Parece deixar de ser mistério pra, na verdade, parecer que não há nada demais. Mas há. A história não perde o brilho e nem sua força. É comovente e nos mostra o quanto é preciso coragem para tomar decisões e estar ao lado de quem amamos de verdade.

Chá tem o mesmo gosto da minha terra: é amargo e quente, forte e carregado de lembranças.
Tem gosto de saudade. Tem o gosto da distância entre onde você está e de onde você veio.
E também desaparece – o gosto desaparece na língua enquanto os lábios ainda estão quentes da xícara. [...] Ouvi dizer que em seu país se toma mais chá do que em qualquer outro.
Imagino como isso deve deixar vocês tristes – iguais a crianças que anseiam pelas mães ausentes.
Sinto muito.
Pág. 136


E, claro, minha paixão estética por livros foi despertada por esse! A ilustração, a capa, a fonte, as cores. Pequena Abelha é um  livro realmente lindo em tantos sentidos!



Post feito ao som no novo disco de Mahmundi