domingo, 15 de janeiro de 2017

A essencial fragilidade de ser


uma das grandes lições que aprendi até aqui foi sobre enxergar, entender e aceitar a fragilidade. em vários aspectos da vida e tudo o que, tendo aprendido e vivido tanto, tão mais na intensidade do que nos números, a gente passa a reconhecer o quanto tantas coisas são únicas e que, pela facilidade de tornarem-se nada, pedem cuidado.

a vida é o potinho de vidro mais frágil que nos cabe cuidar e, talvez por isso, o mais bonito. todos os clichês sobre como devemos aproveitá-la, viver como se não houvesse amanhã e entender como isso tudo aqui é passageiro, acabam fadados à mesmice, até que a própria vida nos cobre a urgência de viver. não com desespero, mas com atenção: para o que realmente importa, para o amor, para as pessoas, para os encontros, pro sorriso do bebê no banco ao lado num colo meio despercebido, pro senhorzinho sentado na calçada de casa num fim de tarde enfadonho e despretensioso que é, senão, a própria vida a passar. e ela passa. num sopro... o mesmo que apaga as velas e lança os nossos desejos no ar.

as nossas relações são frágeis. quando menos se espera, a força com que segurávamos as mãos dos amores de nossas vidas por cuidado, pode tornar-se a força que nos transforma em nossos próprios algozes. não por querer, é claro, o amor não quer (fazer) doer nunca. mas o amor adoece porque ele também é frágil. lindo, sublime, incrível e, sim, também, frágil. e os amores são tanto(s) e de tantas formas: os amigos, os irmãos, as famílias de sangue e/ou laços, os amantes. os amores que transpõem os limites dos mapas e a frequência do wi-fi. os amores que se vêm um dia por ano e vivem, ali, uma vida inteira. os amores que estão lado-a-lado e esquecem-se de si. os amores que se encontram debaixo de um pé de moringa e se abraçam. os amores de ônibus, corredores, bares e sorveterias. tantos. mas aí já é segunda-feira de novo e não dá mais tempo se ver. aí já tenho que fazer mais um trabalho esse semestre, então, "hoje não". aí as prioridades mudaram, esqueci de responder a mensagem e o ano já acabou.

as nossas convicções são frágeis. a gente jura que vai ser pra sempre, mas acaba; a gente não aceita outra forma porque foi assim que aprendeu em casa, mas um dia precisa ir embora; a gente não entende porque não quer, mas tem uma boa resposta pra disfarçar; a gente diz que esse foi o melhor dia da nossa vida, mas só até que chegue outro. (quase) tudo o que a gente toma por certeza é inútil. a beleza de estar aqui é aprender e, principalmente, com o outro. de que adianta, afinal, sempre basear nossas questões somente no nosso ponto de vista? a gente até pode - e deve! - saber ser só, mas ninguém quer isso, ou merece. aprender a olhar pelos olhos do outro é um trabalho cotidiano, muito necessário e que vai, sim, quebrar tantas das nossas frágeis convicções.

uma das últimas coisas mais marcantes que ouvi e ficou gravada em mim foi sobre como precisamos parar pra pensar no quanto estamos permitindo que coisas ruins nos aconteçam. é claro que circunstâncias alheias à nós podem nos tocar, mas será que não estamos descuidando do trabalho de nos conhecer e nos respeitar? quantas vezes deixamos que nos podem pela conveniência de não criar conflitos, por medo, por amor? e as energias negativas que semeamos, o bom dia que adiamos dizer e a clareza e honestidade - com nós mesmos e com os outros - que achamos que não é tão importante assim e, de repente, percebemos que era só o que faltava pra facilitar o encontro ou o adeus e pra dormir em paz?

nós somos seres frágeis. pude sentir isso na pele, no coração e no travesseiro que passou dias sem secar. mas aí eu percebi que junto a isso, nós somos, também, fortes. e muito! quando falo na fragilidade dessas coisas, não me refiro a andar pisando em ovos pra não perder, não machucar, não errar, nem nada disso. me refiro a reconhecer que o cuidado é muito necessário à vida, que a dedicação é fundamental nas nossas relações e em tudo o que fazemos e que, de forte, só precisamos de abraços. já é tudo tão latente e doído, que o que pudermos fazer com leveza, com o cuidado de quem carrega cristais ou recém-nascidos, deve ser feito pra logo, pra ontem. pra sempre.

tem uma música que diz assim: "se eu sou frágil e tu é frágil, vamos nos proteger". é uma música de amor-amante, eu achei e cantei até hoje assim. mas sendo tanto(s), também não é tonto, amor!? reinventemos, então. porque a gente precisa amar, se proteger, cuidar uns dos outros. o afeto vale muito a pena! é ele a capa super-heroica que envolve toda a nossa fragilidade de ser.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Simpatia, de Castello Branco

Conheço Castello Branco há, pelo menos, três anos. Lindo de ver e ouvir, mas, confesso: no começo nossa relação não era lá grandes coisas e eu nem fazia tanta questão de tê-lo nas playlists da vida. A voz dele embalava meus sonos nos corredores da faculdade quando os meninos colocavam pra tocar e esses eram os nossos encontros mais certos. Minha paixão por essa figura e seu trabalho foi acontecendo devagarinho, quase como adormecer. E essa minha estranheza de gostar tinha um outro lado, silencioso: o instagram. Sempre gostei mais de ver as "legendas verticais" que colocava nas fotos e foi onde comecei a gostar muito de ler ele. 

Essa paixão desabrochou pra mim num período muito importante de minha vida quando, morando longe de casa, passei a ter uma relação mais próxima com a música. Entre as vozes que me acompanhavam no medo de sair do apartamento, nas faxinas, em algumas noites depois do trabalho, estava a de Castello Branco. E parecia um reencontro afinal de contas eu já conhecia todas as músicas e mil e uma versões caseiras delas. E, bom, quem mais vive de amores por (re)encontros, o faz menos que eu. Mas aí esse período deu vencimento, voltei pra casa e deixei todas aquelas vozes e letras e acordes guardados amontoados numa caixa aberta de saudades. Eu podia jurar que alguns desses encontros jamais voltariam a acontecer. Que bom que eu estava errada.

Em agosto do ano passado senti uma vontade imensa de destrinchar SERVIÇO, ouvir canção por canção até morrer de amores de novo. Mais difícil do que eu imaginava. Por sorte, esbarrei numa divulgação do financiamento coletivo do livro de Castello e vi ali minha grande oportunidade de superar essa dorzinha. Na primeira semana de outubro recebo SIMPATIA. Eu queria ler devagar pra não acabar. Eu queria devorar. Eu fotografava as páginas, lia no ônibus, guardava na mesa de cabeceira que eu nem tenho. Não pude deixar passar uma inquietação: talvez inconscientemente a poesia de Castello tenha influenciado a minha. Desde abril do ano passado passei a escrever o que eu chamo de "poesia na vertical". Folheando o livro, inevitavelmente lembrando das legendas das fotos no instagram, me reconheço. No desprezo pelas letras maiúsculas e pela pontuação, principalmente. Como tudo que é tão importante na nossa vida, melhor do que a gente pode supor. Deu-se o (re)encontro com a poesia, com a música, com uma parte de mim.












Já no prefácio do livro, escrito por André Dahmer, me entrego: Manoel, o de Barros, é citado!
A poesia Castello Branco é uma mão que repousa do lado esquerdo do peito, sob cores e verdades para além. Abrindo mão de pontos, vírgulas, letras maiúsculas e métricas, o cantor, compositor e poeta carioca tem uma escrita peculiar, ainda que simples. Às vezes a gente não sabe pra onde ir, onde vai chegar, se respira fundo ou se lê em disparada, mas de algum jeito a gente se encontra. Talvez pela a impressão que dá de se estar lendo sobre os dias e cotidianidades em seus versos. Talvez pelo amor estampado em cada letra que é cheia de luz. A poesia parece ter sido escrita como um menino correndo na rua de casa, brincando, finalzinho de tarde. Não é nada intangível, de outro mundo ou coisa assim, mas de uma riqueza de palavras e trejeitos e experiência, de sentir, admiráveis. E, ainda assim, a ternura é constante e a paixão, latente. Dos velhos poetas contemporâneos, Castello Branco brinca, sério, menino, de ser.

Tudo começou em 2014. Busquei criar momentos íntimos e honestos, onde podíamos cantar, conversar, trocar sorrisos, tudo em um tempo diferente daquele tempo de show que estamos acostumados. Batizei esse momento de “Partilha” e o livro também, já que tinha o mesmo significado. Porém, senti necessidade de ser mais específico (todo livro é uma partilha) e logo após alguns acontecimentos, entendi que todas essas partilhas eram sobre sínteses internas. Um livro de sínteses. A simpatia chegou após uma longa noite intensa de sonhos. Acordei com essa palavra. Estava doente e estava doente pelo sim. O sim sem som. A permissão e o Ser. Ouvi algumas coisas sobre simpatia ser o oposto de empatia, mas não. Empatia é algo que a gente trabalha com o outro, simpatia é algo que a gente trabalha com a gente e embora esse momento planetário esteja precisando muito da empatia para cuidarmos do que o outro sente e enxergamos sua real necessidade, a simpatia lacra o trato consigo mesmo sobre seus valores. A simpatia é a empatia que você tem com você. Muito que bem, amados, trago nesse livro algumas simpatias que me ajudaram bastante a enxergar as coisas e os relacionamentos a minha volta. Espero poder ajuda-los também.

Todo o amor,

Castello.

Simpatia é, enfim, belo e singular, e dizer mais que tudo isso, talvez, seja pouco.


domingo, 1 de janeiro de 2017

Luz! (e algo sobre ser e deixar ser)

Tava aqui matutando que não queria deixar guardadas essas fotos que a gente fez num dia tão bom de reencontro, pizza, fofoca, saudades, besteiras, pijamas e amor. Mas aí nem queria bagunçar meu instagram já tão sem ordem, mas que tem uma perfeita sintonia comigo. E foi bem ele que me fez perder o hábito que eu tanto gostava de ter álbuns, às vezes até "temáticos", no facebook. Alguém ainda faz isso? Vou voltar a fazer. Deu vontade... Eu já deixei tanta vontade passar por besteira, por vergonha, por medo do que os outros vão pensar. Que burrice a minha. Nem parece eu... Algumas pessoas diriam isso, aposto. Mas às vezes é muito difícil ser a gente, né? 

Tava aqui fazendo minhas reflexões que se misturam com as minhas sessões sem fim de procrastinação, que até essas pequenas coisas que a gente decide, tipo, "vou dar um jeito de publicar essas fotos", podem estar refletindo algo bem maior em nós. Não quero mais deixar nada passar. Muita coisa vai, é claro. Mas espero que não por querer meu. E que eu consiga deixar essa preguiça, desorganização e receio desnecessários de lado, afinal, já são, pelo menos, sete anos podando esse meu desejo e gosto por me dedicar a um blog. Esse, já é o quarto (e já na sua segunda tentativa!). À propósito, isso não são promessas pro novo ano, são botões colorido conversando no meu juízo.

E por falar em cores e reflexões... LUZ!

Esse, sim, é um dos meus maiores desejos pra esse ano. Todos os dias - ou pelo menos na maioria deles. Luz pra clarear as ideias, os planos, os pensamentos. Luz pra iluminar os sorrisos, as vistas, as mãos. Luz pra facilitar as caminhadas e pra acalmar as paradas pra descansar, as trilhas perdidas. Luz pra guiar. Luz pra aquecer, sentir o sol, admirar a lua. Luz pra ser e deixar ser.

E uma das maiores e melhores chances que temos de iluminar e sermos iluminados são, definitivamente, os amigos. Que nos abraçam, cuidam e alegram. Que nos colocam em xeque e bagunçam nossos sentimentos. Que arrotam, peidam e falam palavrões com a gente. Que fazem nada ou tudo, Seguram as nossas barras, nos confiam as suas. Que nunca dividem as falas igualmente nos seminários, que enlouquecem com fixamentos, que colocam, sempre, os nomes juntinhos nos trabalhos. Que almoça junto, dorme junto e divide a família. Que é besta junto e tira as melhores fotos. Que, apesar de tudo e por causa de tudo, é e deixa a gente ser.

<<< Eita porra!!! A luz do quarto acabou de queimar! >>>
Isso é bem o universo mandando mais uma reflexão. Ou simplesmente avisando que eu não devia deixar pra fazer posts tão tarde, muito menos deitada toda torta sabendo que vou acordar com dor e passar o dia reclamando. O que já me parece uma boa reflexão...

Então fiquem ai com algumas de nossas fotos pisca-pisca-do-amor que, inclusive, não foram planejadas e eu adoro quando a gente se diverte tanto, assim, no improviso e ainda ter um bom resultado; e com as minhas fotinhas quentes, literalmente, porque pisca-pisca esquenta pra caralho. Mas nada de mamilos, afinal, mamilos ainda são "seres" polêmicos!










Beijos de Luz.
Feliz ano bom pra gente!