domingo, 23 de outubro de 2016

Todo amor do mundo.

desenho e fotografia: Wagner Medeiros // @medeiros.pintor @medeiros.fotografo @medeiros.pessoal

Todo amor do mundo pode ser resumido para ser guardado. Um erro, é claro, já que todo amor do mundo deve ser desenhado aos sete ventos e exibido em tela cheia de algodão lá no céu. Mas, ainda assim, penso em como todo amor do mundo pode ser resumido. Um pedido de namoro, por exemplo, que durou uma eternidade, dois sóis e uma lua para acontecer, a gente conta em um minuto, olhando pro alto como se agradecesse e pedisse aos céus que nos mostrasse, nos deixasse viver aquele momento, mais uma vez.

Todo amor do mundo se resume num verso, numa palavra mal_dita, numa melodia. Todo amor do mundo se encontra na ponta dos dedos, na próxima esquina. Todo amor do mundo está onde a gente não quer mais passar quando (se) desacredita e onde a gente quer morar quando revive a esperança. Todo amor do mundo há, e toda poesia está na existência de todo amor do mundo. E, quanto a mim, já me fiz de verso, fantoche e palhaço. Pintei o céu por dentro e chorei no escuro. Eu, acreditem, deixei de ser para descobrir que nunca fui nos dias em que duvidei da existência de todo amor do mundo. Eu deixei de ser.

Redescobrir o amor é, das artimanhas de viver, a mais bonita. É preciso despir-se de vaidade e desarmar-se de orgulho. E o medo, deixar ir... É preciso tornar e não deixar de ser criança, já que a descoberta do amor é constante, colorida e voadora, e quem mais encararia essa poética doída como uma brincadeira que a gente não sabe perder, masconsegue tirar proveito do que se alcança? Depois da brincadeira, o banho chato, mas o cansaço quase sempre nos faz dormir melhor.

É preciso virar do avesso, enxergar por dentro do outro e resignificar nossas cores. Tomar café frio e doce, diminuir o volume e passar noites em claro e sem lençol. É preciso gritar em letras maiúsculas e desesperar-se devagarinho. Descobrir que amanha tem mais, não seguir a receita do bolo e tomar água o dia inteiro. Esperar estrelas caírem, dançar como se ninguém tivesse olhando e fingir lucidez - essa última, bem pouco, não sejam loucos. É preciso sonhar acordado, aprender em silencio e segurar as mãos de alguém.

E então a gente segue e pode soletrar ao vento que já conheceu todo amor do mundo porque conheceu, também, no outro, uma possível continuação de si. Depois percebe que esse todo amor do mundo às vezes muda, às vezes é outro e (quase) sempre é além do que a nossa suposição alcança. Mas continuamos porque é isso que precisamos fazer. E o que seria de nós sem todo amor do mundo para (nos) resumir e (re)acreditar e deixar ser poeta como nunca mais? Poeta sem atrasos ou desculpas, só amor, cabelos bagunçados, carinho de dedo, leituras leves, música baixinha e longos sonos à tarde. Devagar...

Escrever amor em letras garrafais e certeiras, endereçar aos céus num envelope laranja guiado por um balão verde-grama-da-casa-dele.

Eu guardei todo amor do mundo dentro de uma caixa cor-de-céu.
Todo amor do mundo me guardou e me amanhece todos os dias.

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