domingo, 8 de janeiro de 2017

Simpatia, de Castello Branco

Conheço Castello Branco há, pelo menos, três anos. Lindo de ver e ouvir, mas, confesso: no começo nossa relação não era lá grandes coisas e eu nem fazia tanta questão de tê-lo nas playlists da vida. A voz dele embalava meus sonos nos corredores da faculdade quando os meninos colocavam pra tocar e esses eram os nossos encontros mais certos. Minha paixão por essa figura e seu trabalho foi acontecendo devagarinho, quase como adormecer. E essa minha estranheza de gostar tinha um outro lado, silencioso: o instagram. Sempre gostei mais de ver as "legendas verticais" que colocava nas fotos e foi onde comecei a gostar muito de ler ele. 

Essa paixão desabrochou pra mim num período muito importante de minha vida quando, morando longe de casa, passei a ter uma relação mais próxima com a música. Entre as vozes que me acompanhavam no medo de sair do apartamento, nas faxinas, em algumas noites depois do trabalho, estava a de Castello Branco. E parecia um reencontro afinal de contas eu já conhecia todas as músicas e mil e uma versões caseiras delas. E, bom, quem mais vive de amores por (re)encontros, o faz menos que eu. Mas aí esse período deu vencimento, voltei pra casa e deixei todas aquelas vozes e letras e acordes guardados amontoados numa caixa aberta de saudades. Eu podia jurar que alguns desses encontros jamais voltariam a acontecer. Que bom que eu estava errada.

Em agosto do ano passado senti uma vontade imensa de destrinchar SERVIÇO, ouvir canção por canção até morrer de amores de novo. Mais difícil do que eu imaginava. Por sorte, esbarrei numa divulgação do financiamento coletivo do livro de Castello e vi ali minha grande oportunidade de superar essa dorzinha. Na primeira semana de outubro recebo SIMPATIA. Eu queria ler devagar pra não acabar. Eu queria devorar. Eu fotografava as páginas, lia no ônibus, guardava na mesa de cabeceira que eu nem tenho. Não pude deixar passar uma inquietação: talvez inconscientemente a poesia de Castello tenha influenciado a minha. Desde abril do ano passado passei a escrever o que eu chamo de "poesia na vertical". Folheando o livro, inevitavelmente lembrando das legendas das fotos no instagram, me reconheço. No desprezo pelas letras maiúsculas e pela pontuação, principalmente. Como tudo que é tão importante na nossa vida, melhor do que a gente pode supor. Deu-se o (re)encontro com a poesia, com a música, com uma parte de mim.












Já no prefácio do livro, escrito por André Dahmer, me entrego: Manoel, o de Barros, é citado!
A poesia Castello Branco é uma mão que repousa do lado esquerdo do peito, sob cores e verdades para além. Abrindo mão de pontos, vírgulas, letras maiúsculas e métricas, o cantor, compositor e poeta carioca tem uma escrita peculiar, ainda que simples. Às vezes a gente não sabe pra onde ir, onde vai chegar, se respira fundo ou se lê em disparada, mas de algum jeito a gente se encontra. Talvez pela a impressão que dá de se estar lendo sobre os dias e cotidianidades em seus versos. Talvez pelo amor estampado em cada letra que é cheia de luz. A poesia parece ter sido escrita como um menino correndo na rua de casa, brincando, finalzinho de tarde. Não é nada intangível, de outro mundo ou coisa assim, mas de uma riqueza de palavras e trejeitos e experiência, de sentir, admiráveis. E, ainda assim, a ternura é constante e a paixão, latente. Dos velhos poetas contemporâneos, Castello Branco brinca, sério, menino, de ser.

Tudo começou em 2014. Busquei criar momentos íntimos e honestos, onde podíamos cantar, conversar, trocar sorrisos, tudo em um tempo diferente daquele tempo de show que estamos acostumados. Batizei esse momento de “Partilha” e o livro também, já que tinha o mesmo significado. Porém, senti necessidade de ser mais específico (todo livro é uma partilha) e logo após alguns acontecimentos, entendi que todas essas partilhas eram sobre sínteses internas. Um livro de sínteses. A simpatia chegou após uma longa noite intensa de sonhos. Acordei com essa palavra. Estava doente e estava doente pelo sim. O sim sem som. A permissão e o Ser. Ouvi algumas coisas sobre simpatia ser o oposto de empatia, mas não. Empatia é algo que a gente trabalha com o outro, simpatia é algo que a gente trabalha com a gente e embora esse momento planetário esteja precisando muito da empatia para cuidarmos do que o outro sente e enxergamos sua real necessidade, a simpatia lacra o trato consigo mesmo sobre seus valores. A simpatia é a empatia que você tem com você. Muito que bem, amados, trago nesse livro algumas simpatias que me ajudaram bastante a enxergar as coisas e os relacionamentos a minha volta. Espero poder ajuda-los também.

Todo o amor,

Castello.

Simpatia é, enfim, belo e singular, e dizer mais que tudo isso, talvez, seja pouco.


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