quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Pequena Abelha, de Chris Cleave



Autor: Chris Cleave
Editora Intrínseca
270 páginas

Não queremos lhe contar O QUE ACONTECE neste livro.
É realmente uma HISTÓRIA ESPECIAL,
e não queremos estragá-la.
AINDA ASSIM, você precisa saber algo para se interessar,
por isso vamos dizer apenas o seguinte:


Esta é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa...



Essa sinopse transmite um suspense tão grande que se eu tiver de apontar um defeito nesse livro seria exatamente isso! Não que o livro não seja misterioso, excitante e essas coisas todas, mas o ápice da história é contado de forma gradual, tão aos pouquinhos que, quando chega, encontra o leitor de ombros relaxados porque, não que demore ou seja parado, até porque o livro é pequeno e, realmente, excitante. Mas o grande segredo da história é muito adiado, a ponto de se tornar previsível e o leitor suspeitar do que vai acontecer e, quando acontecer, acabar não tendo mais graça. (isso não aconteceu comigo, é muito fácil me surpreender)

Definitivamente, esse mistério todo fez efeito em mim e a história, tão forte e emocionante, mais ainda. Há tempos eu queria ler esse livro e quanto tive ele nas mãos não pensei duas vezes e me entreguei. Era como se eu estivesse comendo, com muita fome, minha comida preferida (se a lista não fosse enorme eu citaria alguma): queria devorar, mas queria, também, saborear. Não queria mesmo terminar e, mesmo assim, já recomendava o livro sem saber no que ele findava. A história me envolveu muito e não foram só duas ou três vezes que me peguei chorando com a leitura.

Nas pernas escuras da moça havia muitas cicatrizes brancas pequeninas.
E pensei: Será que essas cicatrizes estão no seu corpo inteiro, como as luas e estrelas no seu vestido?
Achei que isso também seria bonito e peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensemos.
Mas você e eu temos de fazer um acordo e desafiá-los.
Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado?
Este vai ser nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto.
Uma cicatriz significa: "Eu sobrevivi."
Pág. 17


A história é narrada pelas duas personagens citadas na sinopse: Pequena Abelha, uma menina nigeriana e Sarah, uma jornalista britânica. Outro personagem importantíssimo, apesar de pequeno, é Charlie - ou podem chamá-lo de Batman - filho de Sarah, que trás paz em muitas páginas com sua verdade de criança. A história segue uma dinâmica que me agradou muito: os capítulos são contados ora por Pequena Abelha, ora por Sarah. Esse jogo nos dá perspectivas diferentes da história e uma certa proximidade com as personagens que ficam cada vez mais reais. A narrativa é simples e a forma como é desenrolada pelas personagens fica bem característica, marcada pelas vidas diferentes que levavam, onde Sarah é um tanto firme e sensata no que relata e Pequena Abelha é ingênua e sempre tenta enxergar o que lhe cerca com bons olhos.

Chris tem uma escrita tranquila e simples, repito, mas por vezes confusa. Se é que este não foi, mesmo, o objetivo dele já que o livro tem essa "revelação gradual". Pequena Abelha tem uma narrativa que intercala presente e passado a todo momento e por vezes, esse jogo atrapalha o ritmo da história quando contorna o que se espera saber. Parece deixar de ser mistério pra, na verdade, parecer que não há nada demais. Mas há. A história não perde o brilho e nem sua força. É comovente e nos mostra o quanto é preciso coragem para tomar decisões e estar ao lado de quem amamos de verdade.

Chá tem o mesmo gosto da minha terra: é amargo e quente, forte e carregado de lembranças.
Tem gosto de saudade. Tem o gosto da distância entre onde você está e de onde você veio.
E também desaparece – o gosto desaparece na língua enquanto os lábios ainda estão quentes da xícara. [...] Ouvi dizer que em seu país se toma mais chá do que em qualquer outro.
Imagino como isso deve deixar vocês tristes – iguais a crianças que anseiam pelas mães ausentes.
Sinto muito.
Pág. 136


E, claro, minha paixão estética por livros foi despertada por esse! A ilustração, a capa, a fonte, as cores. Pequena Abelha é um  livro realmente lindo em tantos sentidos!



Post feito ao som no novo disco de Mahmundi 

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