quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulher também usa samba canção

(adara sánchez anguiano)


Vadia!
Mais dia, menos dia, é assim que me dizem as más línguas
As boas, quando calam, me beijam a trindade: corpo, alma e coração.
Das duas, nenhuma me importa.
Quem sabe de mim, só deus e eu.
Meu deus que se veste de travesseiro e agarra minha mão em cada travessia, cada guerra, cada caminhada.
Eu nunca estou só.
Travo batalhas diárias, engulo sapos, enfrento leões.
Digam como quiser.
O fato é que sucumbo à ânsia que toda essa hipocrisia me causa com seus dedos nas caras alheias antes de me deixar dormir em paz.

Bem-me-quer...
Me acordam ao som de bons dias benditos.
Me tiram pra dançar.
Dois pra lá, dois pra cá.
Suas cuecas, minhas calcinhas.
Nossos pratos, xícaras, livros e lençóis.
A conta divida ao meio, de mãos dadas.
Seus direitos, meu deveres e o dia acabará bem.

Mal-me-quer...
Me tiram da cama aos ruídos de boas noites malditas.
Mentiras pra me ganhar. Me roubam.
Assaltam-me o corpo, machucam meus traços, arrancam minha voz.
Me ferem com os olhos.
Com as palavras, levam minha paz.
Meus direitos? Seus deveres?
Tudo disfarçado em placas de não-fume e em fés escancaradas.

Bem-me-quer, mal-me-quer e o mundo acabará sem flores!
Não há como escolher o dia, resta apenas contar com a sorte.
Não há como desenhar a noite, nos resta esperar que renasçam os jardins.
Amanhã acordo com voz! - amém -

E as marias, lúcias, filhas, mães e amigas?
As faxineiras, secretárias, modelos e poetas?
E as que sentiram diferente, as descobriram ser?
As que morreram ontem?
E as dores de hoje?
O mundo espanca, o corpo sangra.
Nossa raiz alimenta, nosso orgulho sustenta.
Hoje!

Segundos eternos pra mente: não há o que esperar!
Não minto, fraquejo.
Me laço, não paro.
De dedos cruzados, desejo.
Que as bandeiras continuem erguidas, que as vozes gritem ainda.
Que toda poesia que existe na luta não deixe parar.
Logo menos amanhece e a força torna a voltar. - amemos -

Vem dia, vai dia...
Escalemos até o topo de nossos problemas,
Pisando firme no alto das falácias e (pre)conceitos de pseudo-gentes.
No toca-fitas e no corpo, a canção mais confortável
E de salto agulha sambar à vida, sambar à luta
Sambar o orgulho de ser mulher!

06.06.2012

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